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quinta-feira, 6 de maio de 2010

INSTANTE

Hoje to sem rumo, desesperada
Incapaz de nadar cem léguas
Inútil em tentar arrumar o sorriso
To assim feito um escândalo
Um prejuízo

Lavei os cabelos
Agora soltos batem na minha cara
Misturam-se às lágrimas a água do banho
Pareço uma pintura
Silenciosa,
Barroca.

Ah! Quanta dúvida e dor de existir
Minhas unhas reclamam um corpo pra arranhar
Um par de ouvidos sem cera
Que possam me ouvir
Um par de ouvidos e lóbulos
Arrepiando-se. Nus.

Rejeito a beleza porque minha feiúra grita
Meus defeitos dançam tão leves
Criando confusão
Nem a água nem a terra
Podem me purificar
Sou de metal extinto
Como borboletas transparentes em espelhos quebrados

Há tantas torres em meus ombros
De tijolos brancos, virgens
Torres virgens e sem janelas
Virgens degraus que não quero subir... nem descer
Antes rolarei torre abaixo
Desabando tudo, destruindo a simetria
Caos virgem em meus ombros

Quero saliva... quero soluços...
Passar da medida
Feiúra na brancura do dia
Desafiando as ninfas
As belas sacerdotisas
Quero salivas e um único soluço
Para me assustar à beira do precipício
Como a dizer: não pule!
E só pra contrariar um soluço
Pularei de olhos abertos
Só para não ter mais que lavar os cabelos
E senti-los batendo na cara
Só para que minhas unhas não me reclamem um par de pés
Só para derrubar de vez as torres e as tempestades
Que se equilibram em meus ombros
Só para me misturar ao chão tão bela
Enfim bela, ossos e escombros!

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