Era começo de noite numa cidade
do interior. Verão quente, muita gente na rua. Na praça, uma banda local tocava
clássicos do rock para demarcar a abertura do Festival de Verão. Cheiro de
churros, cachorro quente, batata frita. Jovens, crianças, senhores e senhoras.
Dentre tantas pessoas ali
presentes, eles se olharam. Ambos bebiam cerveja da mesma marca. Ele se
aproximou. Arrumou assunto. Ela sorriu. Respondeu. Momentos depois descobrem
que são da mesma cidade. Sem dúvida, uma daquelas coincidências felizes do
destino. Ela estava li de férias, com as amigas. Ele, acompanhando o filho e o
time de futebol juvenil. Trocaram telefone. Combinaram de se ver noutro dia. Viram-se.
Beijaram-se. Combinaram se encontrar na cidade em que moravam. Encontraram-se. Conversa
solta. Algumas cervejas. Muitos beijos.
Aparentemente, ele é um desses
caras legais. Tranquilo. Idade boa. Uns olhos que faíscam. Educado. Gentil.
A promessa positiva de uma
afeição era nítida, mas do nada, ela fugiu. Disse que não queria mais vê-lo. Ele,
muito educado, disse que tudo bem, mas que estaria ali caso ela mudasse de
ideia. Ele pensou ter feito algo. De fato, não havia feito nada. Para ela, era muito
difícil explicar seus motivos sem parecer ser uma moça muito complicada. Então,
optara pelo caminho mais fácil: fugir. A questão era conviver com sua
consciência e uns apertos furtivos no coração que insistia em querer vê-lo,
falar com ele, tentar. Mas, ao mesmo tempo em que esses pensamentos ganhavam
força, outro alarme soava: ansiedade, insegurança, medo, relacionamentos
passados ainda lhe causavam pânico. Será que aconteceria tudo novamente? E se
ela não quisesse mais e ele começasse a persegui-la? Será que ele entenderia
que sua prioridade eram os filhos? Que seus horários eram malucos? Que ela se
enxerga velha e se sente infeliz com o próprio corpo? O número de inquietações
a sufocava. Sim, era melhor fugir.
Um dia lhe disseram que ela estava
repetindo os padrões. Queria muito um amor, mas toda vez que alguém surgia,
corria que nem diabo da cruz. Ela riu. Depois calou. Seria verdade? E, se
fosse, como sair daquele ciclo? A explosão de sentimentos fez com que ela
chorasse um pouco. Voltar às lembranças do passado era dolorido. Será que não
haveria uma nova chance para ela? Fugiria para sempre?
Procurou no celular o telefone
dele. Com receio de fazer contato, afinal ela que havia dito que era melhor não
se verem mais. Arriscou um bom dia. Ele respondeu, instantes depois. Rolou conversa.
Rolou a possibilidade de um encontro.
Nesse momento, ela escreve umas
palavras de incentivo para si mesma. Respira fundo. Foca-se em outras coisas. Ela
não tem a mínima ideia sobre o que vai acontecer. Se vai ser bom. Se vai valer
a pena. Se vai controlar a ansiedade. Nem tem certeza se foi uma boa ideia
marcar o encontro. Olha a dúvida surgindo aí...
Ela vai colocar uma música bem
alto astral agora e escrever para umas amigas. Enviar memes. Ver Netflix. Comer
chocolate.Chega de pensar. Agora não.