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terça-feira, 11 de maio de 2010

HOJE... ONTENS...

Atrás dos sorrisos existe uma sombra
uma forma triste que se move vagarosamente
e vem me fazer chorar
existe um mal-estar
um não querer
um medo pulsante

me sinto muito só
frágil e desamparada
como se eu visse toda a vida passar diante dos olhos
e escorrer pelas mãos
e não pudesse fazer nada
meu filho me faz resistir
e também o que está porvir...

mas quando páro pra escutar o silêncio
ouço a melodia pálida
a voz da melancolia
e com ela a falta de sono
de fome
uma preguiça enorme
um desapego...
e me deixo levar, quase sempre para a inatividade
e para o choro

Não olhe assim para mim
não fale alto
não me contrarie
não tente me tirar daqui
meu corpo pesado
não quer censuras
reflete amarguras
que nem sei direito de onde vem

Tudo é longe e difícil
cansativo e impossível
chato, sem graça
tudo é contra mim
todos me esqueceram
a alma não voa
a imaginação não funciona
meu corpo dói
- dói muito -
e o que sobra
são pequenas coisas
pequenos clarões em dias sem cor

Respirar
respirar fundo e com calma
encontrar novamente a alma
não sei quando
por enquanto
os pés são de chumbo
a boca reclama água
os olhos reclamam o escuro
o coração descompassado
procura um bálsamo
um novo rumo...

priscila modanesi

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ela...

Voa voa sua alma
pesada com o chumbo dos pensamentos
das neuroses e aflições
se pudesse voar ao invés de gastar os pés em estradas poeirentas
atalhos enganadoramente mais curtos
frases que não aguenta mais ouvir nem repetir

Voa sua alma num sopro de vento
deixa pra trás o tédio
o desamor
inventa uma forma de fugir, visitar outro país
um espelho
um momento feliz
para curar a dor de tantos outros

ela tem a poesia em sua alma
por isso precisa de beleza, essência e calma
um travesseiro
uma canção
mandar embora o que não serve
postar no universo o que a diverte
o que a embebeda
fazer sua trilha no céu
que não tem pedras, tem estrelas
arco-iris
cometa
o céu etéreo
escorregador infinito anil, mergulhado em glitter
ela quer descer esse portal macio
tirar tudo do lugar
encontrar suas rimas
e voltar
alma leve
pronta para voar..

POETA SEM MUSA




Não me sai uma gota de poema
Não penso em versos, só em prosa
Minhas musas cansaram e foram embora.
Restou-me a garrafa de vinho e o cigarro no cinzeiro,
A decepção tatuada, _ é uma doença esse vazio.

Hoje vejo o mundo tão sem graça,
_ Sem rimas_
e antes ele era a fonte da qual eu mais bebia.
O mundo era meu protagonista
Para o mundo odes, formas de conquista!
... Agora ele foi mesmo conquistado:
a falta de inspiração destruiu seu reinado...

Há muito pouco que se fazer,
Eu tenho a alma vagabunda ainda,
Nesse momento mendigo uns versos de aurora
MAS MINHA MUSA CANSOU-SE DE MIM E FOI EMBORA!

Ingrata! Mesquinha!
Por acaso não lhe dei o valor que merecia?
Não perdi noites de sono te adorando?
Como foge assim e leva minha poesia,
Responde-me a quem se oferece agora!

Preciso escrever uma coisa sensacional
Dessas que se colocam em um mural
Dessas com trilha sonora e ilustração
Comentários análises suspiros gerais
Que todos não cessem de ler
E copiam e guardam e todos querem ter...

Metafísica, geometria, existencialismo, política, sexo virtual, transcendental, anal!
Botânica, Butô, Bucolismo, fofoca família amor!
Escrever, cuspir, gozar um texto original,
Um tanto Rodrigueano!
Exorcizar a Musa vadia
Compor nem que seja só poesia
_ De botequim que seja_
De hipocrisia.

Puta que pariu! Me pariu, pariu uma doidivanas, havaiana, mucama, ama...
Uma vaca, paca, babaca
Explosão de mulher!

Quem sabe criar um almanaque, um gibi, um cordel...
Literatura contemporânea, espontânea, arte por arte, antropofagia, um levante homossexual!
Himalaia, Taj Mahal, intercambio cultural, ou seja lá o que Diabo for!
Diabo!
O diabo mora nos detalhes!
O inferno são os outros!
Heavy Metal, celebração Pop, enfoque.
Preciso de foco, de luz, desbaratinar o que não presta.
ÓPERA, ÓPIO, ÓCIO, ÓDIO!
Violência gratuita custa caro!

Vou escrever propaganda, vender barato:
Tudo ou nada na lei do consumismo!
Hieróglifo, telégrafo, código Morse, escrever escrever como máquina.
_ Não, senão fica sem alma, na máquina não tem negrito, itálico, arial black!_
escrever bico de pena, tatuagem de henna, teatro de arena,
E S T R A T A G E M A S !

I ching, runas , tarot, ler as mãos
Quem escreveu nosso destino?
Quem tão criativo, tão sádico?
Quem determina que seja assim ou assado, traçado, costurado, sem rasuras?
Quero rasurar meu texto, meu sexto sentido, meu pretexto, meu contexto.

Tô puta, caduca, com tudo, me confundo, um punho, um pulso, mãos...
Escrevam! Criem!
_Idiotices, mãos não pensam!_
Mas bailam, voam na esfera do braço
Na atmosfera de um abraço
Pegam no laço, cansaço!

Toc, tlec, tloc, timtim, tumtum, tamtam.....
Musa desonesta, profissão de uma figa
Vou fazer figa.
Isso, vou fazer intriga e ganhar a vida!
A vida!

Neologismo, protestantismo,
A Vida.
Ciclo, vício,
A Vida!
Purismo, ostracismo,
A Vida...
Gesto leve, tenso, beijar.
Se amar com a vida
Ser amor que dá a vida
Parir e gritar
Gritar e rir
Rir pra calar
Pra não parar de rir
E se encontrar.
O relógio conta horas
Conte-me uma história, ora bolas!
Ponteiros, segundos, minutos!
O relógio pifou, pifei!
Caduquei
Não penso em verso
Não penso em prosa
Não crio, natureza morta
Fumo
Bebo
Dou voltas e voltas
E me transformo de vez em movimento...

priscila modanesi

INSTANTE

Hoje to sem rumo, desesperada
Incapaz de nadar cem léguas
Inútil em tentar arrumar o sorriso
To assim feito um escândalo
Um prejuízo

Lavei os cabelos
Agora soltos batem na minha cara
Misturam-se às lágrimas a água do banho
Pareço uma pintura
Silenciosa,
Barroca.

Ah! Quanta dúvida e dor de existir
Minhas unhas reclamam um corpo pra arranhar
Um par de ouvidos sem cera
Que possam me ouvir
Um par de ouvidos e lóbulos
Arrepiando-se. Nus.

Rejeito a beleza porque minha feiúra grita
Meus defeitos dançam tão leves
Criando confusão
Nem a água nem a terra
Podem me purificar
Sou de metal extinto
Como borboletas transparentes em espelhos quebrados

Há tantas torres em meus ombros
De tijolos brancos, virgens
Torres virgens e sem janelas
Virgens degraus que não quero subir... nem descer
Antes rolarei torre abaixo
Desabando tudo, destruindo a simetria
Caos virgem em meus ombros

Quero saliva... quero soluços...
Passar da medida
Feiúra na brancura do dia
Desafiando as ninfas
As belas sacerdotisas
Quero salivas e um único soluço
Para me assustar à beira do precipício
Como a dizer: não pule!
E só pra contrariar um soluço
Pularei de olhos abertos
Só para não ter mais que lavar os cabelos
E senti-los batendo na cara
Só para que minhas unhas não me reclamem um par de pés
Só para derrubar de vez as torres e as tempestades
Que se equilibram em meus ombros
Só para me misturar ao chão tão bela
Enfim bela, ossos e escombros!

À ETERNIDADE

Navegamos juntos num oceano de maldições
Cansados, sem fôlego, pedimos perdão
Nos despedimos da vida como perdedores
Perdidos num mundo de água e sal... Não viramos estátuas
Nem fomos para o ventre da baleia
Tiramos da vida tolas lições
E a vida de nós tirou suor, trabalho e decepções...

Jogados com as ondas, nas pedras dormimos
Quebrados os ossos, rezamos à lua
Fomos isca de uma vida ingrata
Fizemos figa, cruzamos os dedos e morremos afogados

Pedimos socorro em navios pirata
Fomos confundidos com monstros marinhos
Talvez sejamos monstros, talvez sejamos piratas
Não nos avisaram nessa vida sobre nada!

O norte e o sul dos nossos corpos
Boiaram areia adentro ondas siderais
Contra todos, a favor de quem?
Se nos salvassem anjos, nós acreditaríamos...
Em anjos, só anjos dessa vez!

E agora, queremos secar nossas roupas
Mas há muito que somos só farrapos

Pisamos no nada descalços
Quem fomos nós nessa curta existência?

Se soubéssemos nadar... Ou voar
Fôssemos nós espécie de ave
Fôssemos nós um escalpe
Sobreviveríamos...
Mas não, não seria tão simples
Simples é morrer...
E viver? Quem agüenta tanto tempo?

Nus. Juntos no início e no fim
Irmãos sem sangue nas veias
Perdidos e partidos, sem Hemisfério
Sem terra firme... juntos, boiando rumo à eternidade
Que não sonha, não é, não faz sofrer, é eterna e só!

priscila modanesi

Uma Cia. Um Sonho



Sim, eu faço teatro... Eu luto, não durmo, não tenho domingos nem feriados, a família já me deserdou, os amigos "normais" há muito estão longe... Optei por este caminho e não me arrependo. Essa opção mudou toda minha conduta, meu filho teve que aprender, o que está por vir, aprenderá também... Namorados não aguentaram muito tempo... HOje amo alguém que me ama e que me aceita (mas um sufoco!!), mas sei o quanto deve ser difícil pra ele.
Porém, ele diz que meus olhos brilham quando falo de teatro... Devem brilhar mesmo (rs).
É uma vida difícil essa, o teatro é a arte da contramão, mambembe, por natureza, acho que sempre será assim...
Estudamos muito, nunca há um fim, mas meios, pretextos.
Os amigos se tornam irmãos, os momentos vivências que nunca esqueceremos...
Coordeno e dirijo uma Cia de Teatro... a Cia de Teatro Educando com Arte... é minha vida... meu dia-a-dia, meu suor, dedicação...
Cada nova peça, performance, aula, descoberta... São todos importantes... Urgentes...
Quero realizar muito ainda, muito... Sonho tanto... É preciso sonhar para criar...
Dar chances ao "SE"...
Abrir os olhos da imaginação...
Já estão abertos, arregalados noite adentro, dias sem fim...
Trabalhando muito...
Quem quiser conhecer um pouco desta tchurma, acessem:
www.teatroitupeva.multiply.com
Conheçam um pouco da Cia e de mim também!!

Alice... eu também vi e refleti...


Alice é uma viagem de entrada e saída do útero. Vi assim.

Quando ela cai no buraco, é como o espermatozóide que entra no óvulo.
As várias portas que ela tem de escolher, são as várias possibilidades do espermatozóide ser fecundado ou não. A menor porta, a brecha mínima é sua chance...

Fecundados então. Prossigamos viagem...

É como comparar a viagem de Alice ao nosso período no útero: um mundo desconhecido, de transformação, com certeza cheio de aventuras;
O Chapeleiro diz a Alice: Quando você for embora, não lembrará mais daqui!

De fato, não lembramos desse período no útero, mas os registros ficam em nosso inconsciente e são acessados, mesmo que a gente não saiba diretamente, em momentos de nossa vida, como na cena onde Alice lembra que já esteve naquele lugar antes... São flashs rápidos, mas que fazem cair muitas fichas...
às vezes a gente tem a sensação de já conhecer algo, de ter vivido, visto... Pode muito bem estar relacionado com nosso período no útero, onde éramos levados na barriga de nossa mãe(ou seria nosso coelho branco?).

É claro que quando Alice decide ir embora, é o momento do nascimento, voltar pelo mesmo caminho, ao contrário, transformados...

Bom, encerro por aqui, mas ainda estou refletindo sobre o assunto, tem um monte de outros elementos simbólicos... Assim que eu for esclarecendo, vou colocando aqui...

OBS _ A foto, é uma performance sobre ALice, que fiz em 2006, junto com Marsial Azevedo...

... Do Começo...

Começo com uma frase, que para mim, é fundamental e verdadeira, por si só:

ONDE HÁ MAGIA NÃO HÁ MORTE

-Joseph Campbell-

E continuo com um poema

"REZA O INFINITO"

Nada como estar preenchido de idéias
Idéias sem cor que ganham forma com imagens
E estar assim nesse impasse é como decorar cada recanto do universo
para soprá-lo num sorriso
num começo...

O começo é só um passo ou um aceno
o que vem depois desabrocha em infinitas proporções
o que vai pra lá tem seu destino feito
a gente que fica... vai pra onde não sei
Não saber é o Mistério

Recolher as folas para refazer as árvores na primavera
ou guardar o vento em garrafas de vidro para espantar o calor
deter a correnteza com pernas e braços fortes
dentes cerrados
punhos fechados
a água não vê a força, ela vai
incansável para o seu onde

E onde é que está a força da água senão no invisível
na transparência do seu ser, por si só
milhares e gotas que se juntrm para um só fim
a aura da água é verde

Fôssemos como partes dessas gotas
jamais nos sentiríamos sós
jamais nos sentiríamos fracos
jamais pararíamos em barreiras de braços, pernas, dentes e punhos
seguiríamos com a correnteza
para o onde da natureza
em meio às idéias, imagens, sons

A gente com a água dança o rio
canta a cachoeira
ama os peixes
reza o infinito.

-Priscila Modanesi-