Logo ali há uma
casa. Onde os objetos movem-se com o vento... às vezes devagar. Outras não. Há
um mistério silencioso na casa... Um sopro contínuo. Murmúrio nos cômodos.
Na sacada, o
suicídio de uma brisa. No corredor, passos interminavelmente descalços.
No quarto,
sonhos e pesadelos brigam, talvez se acariciem. De leve.
Casa Viva... Sonhos
no prato. Pistas no guarda-roupa. Batom no espelho. Flores
na banheira.
Uma mulher que fugiu. Vestidos vermelhos de um tecido angustiante. Bilhetes estranhos perseguem com seu perfume de vela que não queimou até o fim.
Uma mulher que fugiu. Vestidos vermelhos de um tecido angustiante. Bilhetes estranhos perseguem com seu perfume de vela que não queimou até o fim.
Antes de fugir ou de
morrer... Nunca se sabe afinal... morrer ou fugir. Antes, ela olhou a janela:
embaçada. E concluiu que das janelas rubras choviam rosas... que o vapor é a
lágrima do horizonte que escorre das vidraças... Concluiu tantas coisas que
carregou todas elas em sua única mala. Esqueceu-se dos documentos. O que não
importa a quem foge ou morre, definitivamente.
Tudo que ficou para
trás, ficou com seus motivos e cheiros. Deixou a herança fúnebre, o amor
passional que manchou as paredes, descascou o chão, pintou as portas... A casa
continua viva, pulsante, um delírio poético no concreto de todos nós...
A mulher partiu com sua
mala, sem sabe do seu futuro, em sua cabeça, o mantra dizia: É LOGO ALI!
PRISCILA MODANESI