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domingo, 3 de agosto de 2014

"É LOGO ALI"

Logo ali há uma casa. Onde os objetos movem-se com o vento... às vezes devagar. Outras não. Há um mistério silencioso na casa... Um sopro contínuo. Murmúrio nos cômodos.
Na sacada, o suicídio de uma brisa. No corredor, passos interminavelmente descalços.
No quarto, sonhos e pesadelos brigam, talvez se acariciem. De leve.
Casa Viva... Sonhos no prato. Pistas no guarda-roupa. Batom no espelho. Flores na banheira.
Uma mulher que fugiu. Vestidos vermelhos de um tecido angustiante. Bilhetes estranhos perseguem com seu perfume de vela que não queimou até o fim.
Antes de fugir ou de morrer... Nunca se sabe afinal... morrer ou fugir. Antes, ela olhou a janela: embaçada. E concluiu que das janelas rubras choviam rosas... que o vapor é a lágrima do horizonte que escorre das vidraças... Concluiu tantas coisas que carregou todas elas em sua única mala. Esqueceu-se dos documentos. O que não importa a quem foge ou morre, definitivamente.
Tudo que ficou para trás, ficou com seus motivos e cheiros. Deixou a herança fúnebre, o amor passional que manchou as paredes, descascou o chão, pintou as portas... A casa continua viva, pulsante, um delírio poético no concreto de todos nós...

A mulher partiu com sua mala, sem sabe do seu futuro, em sua cabeça, o mantra dizia: É LOGO ALI!

PRISCILA MODANESI