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domingo, 6 de outubro de 2013

POEMA DA REVOLUÇÃO GRAMATICAL


 

Um registro de idéias, num flash epopéias

Muitas! São centopéias,

Um cêntuplo de pensamentos

Centúria a lutar contra preconceitos

Um cêntimo por esse silêncio

Displicência centenária nos trejeitos

Resvala o dó, o sol, centavos a velejo...

 

Meu eu lírico é desigual, até casual

É rouco, uma rima sensual

Despejada em odes, odisséias

Mariposas simétricas

Retilíneas esconjurações

Designações do meu eu-proposital

Sou uma hipérbole com mil paradoxos

Superlativos abstratíssimos!

 

Escrevo-me ou descrevo-me, sou emergente

Transcendente de um estilo literário

Nem rótulos, nem catálogos

Enluarada, ensolarada, intempestiva

Radioativa, figuração, protagonista

No caos das idéias iluministas!

 

Um elo inebriante entre povo e governante

É um sabor diverso experimentar tais gumes,

É uma gota de sabedoria caindo n’alma

Em um segundo apenas um minueto gracioso

Um minuto de sobra,

Percorrer muitos quilômetros num minuto-luz

Um miríade de explicações e conotações

Sentimentos momentâneos, duradouros

Centímetro a centímetro

Olho no olho,

Alcançando a vida, diminuindo-a então

É uma conseqüência lógica, mas nem sempre percebida

 

A indignação mede muitos quilowatts,

Mas tem sua força na inércia dos tempos

É uma revolução quixotesca

Um qüiproquó circense, mambembe

A revolução é um peixe-voador

Que de séculos em séculos arrisca pequenos vôos

Quimera doce viver a anos-luz

 

Soletrando o mi, o fá, notas múltiplas

Como os dias, vividos em lupas

Flash-back, lugar-comum, saudosismo natural

Um vintém por uma hora a mais

Um tostão para viver novas loucuras

Molecagens, muitas travessuras

E esquecer o presente que está falindo o futuro

Mais uma cantiga de roda

Aquela antiga rota

Que nos conforta, nave especial,

Encubadouro de filosofias!

Lusíadas, troianos, muçulmanos

Reacionários, ultra-humanos

Clonagem lírica de gramáticas científicas

Ao fim códigos, números, registros

Muitos dólares, coração extinto

Por enquanto ainda vivemos descomplicados

Construindo e bombardeando grandes telhados!
 
PRISCILA MODANESI
 
 

sábado, 5 de outubro de 2013

REZA O INFINITO


Nada como estar preenchido de ideias

Ideias sem cor que ganham formas com imagens

E soprá-las num sorriso

Num início...

 

Desabrochar o infinito

Desfrutar o destino

Sem sabê-lo

Mistério diário

 

Guardar as folhas que caem no outono

Para refazer árvores na primavera

Guardar o vento em garrafas

Para espantar o calor

Deter a correnteza: pernas e braços fortes

Dentes cerrados

Punhos fechados.

A água não vê a força

Ela vai...

Incansável para o seu onde

 

A força da água mora no invisível

Na transparência do seu ser

Milhões de gotas juntas para um só fim

A aura da água é verde

 

Fôssemos como parte dessas gotas

Jamais nos sentiríamos sós

Ou fracos

Seguiríamos com a correnteza

Para o onde da natureza

 

A gente com a água dança o rio

Canta a cachoeira

Ama os peixes

Reza o infinito.


PRISCILA MODANESI
 

 

 

LADAINHA DO NEGRO


Soa triste o canto negro dos irmãos da minha Pátria

Voam longe os dias em que ficávamos exaustos de dançar... apenas de dançar...

Ficou para trás o horizonte, o nosso berço, a nossa liberdade

Ficaram as marcas de aço e chicote em nossa pele

O gosto de sangue, o cheiro da morte, o acorde das lágrimas

O mar abraçou nossas feridas, mas não conseguiu curá-las

A honra, de tão pisoteada, adormeceu em nossas almas

O canto silenciou nas noites escuras

Os monstros marinhos devoram os que não suportam

Os que sucumbem à ganância e aos maus tratos

Oxalá, Oxalá, olha por nós!

Traz-nos tua força Guerreiro Ogum!

Que os pretos d’Angola não aguentam mais chorar...

Esse chão que recebe nossos pés é árido demais

O sol queima nossa pele, quente demais

A água não mata a sede, a comida não mata a fome

A escravidão nos mata, Oxalá!

Oxalá, Oxalá olha por nós!

Que os ‘preto’ ‘tão tudo triste

A gente se olha, a gente chora

A gente se cala e calado se pergunta se a paz ainda existe!
 
TEXTO DE PRISCILA MODANESI