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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Crônica de uma amor de Verão ou Sobre como ela fugiu de um possível romance


Era começo de noite numa cidade do interior. Verão quente, muita gente na rua. Na praça, uma banda local tocava clássicos do rock para demarcar a abertura do Festival de Verão. Cheiro de churros, cachorro quente, batata frita. Jovens, crianças, senhores e senhoras.
Dentre tantas pessoas ali presentes, eles se olharam. Ambos bebiam cerveja da mesma marca. Ele se aproximou. Arrumou assunto. Ela sorriu. Respondeu. Momentos depois descobrem que são da mesma cidade. Sem dúvida, uma daquelas coincidências felizes do destino. Ela estava li de férias, com as amigas. Ele, acompanhando o filho e o time de futebol juvenil. Trocaram telefone. Combinaram de se ver noutro dia. Viram-se. Beijaram-se. Combinaram se encontrar na cidade em que moravam. Encontraram-se. Conversa solta. Algumas cervejas. Muitos beijos.
Aparentemente, ele é um desses caras legais. Tranquilo. Idade boa. Uns olhos que faíscam. Educado. Gentil.
A promessa positiva de uma afeição era nítida, mas do nada, ela fugiu. Disse que não queria mais vê-lo. Ele, muito educado, disse que tudo bem, mas que estaria ali caso ela mudasse de ideia. Ele pensou ter feito algo. De fato, não havia feito nada. Para ela, era muito difícil explicar seus motivos sem parecer ser uma moça muito complicada. Então, optara pelo caminho mais fácil: fugir. A questão era conviver com sua consciência e uns apertos furtivos no coração que insistia em querer vê-lo, falar com ele, tentar. Mas, ao mesmo tempo em que esses pensamentos ganhavam força, outro alarme soava: ansiedade, insegurança, medo, relacionamentos passados ainda lhe causavam pânico. Será que aconteceria tudo novamente? E se ela não quisesse mais e ele começasse a persegui-la? Será que ele entenderia que sua prioridade eram os filhos? Que seus horários eram malucos? Que ela se enxerga velha e se sente infeliz com o próprio corpo? O número de inquietações a sufocava. Sim, era melhor fugir.
Um dia lhe disseram que ela estava repetindo os padrões. Queria muito um amor, mas toda vez que alguém surgia, corria que nem diabo da cruz. Ela riu. Depois calou. Seria verdade? E, se fosse, como sair daquele ciclo? A explosão de sentimentos fez com que ela chorasse um pouco. Voltar às lembranças do passado era dolorido. Será que não haveria uma nova chance para ela? Fugiria para sempre?
Procurou no celular o telefone dele. Com receio de fazer contato, afinal ela que havia dito que era melhor não se verem mais. Arriscou um bom dia. Ele respondeu, instantes depois. Rolou conversa. Rolou a possibilidade de um encontro.
Nesse momento, ela escreve umas palavras de incentivo para si mesma. Respira fundo. Foca-se em outras coisas. Ela não tem a mínima ideia sobre o que vai acontecer. Se vai ser bom. Se vai valer a pena. Se vai controlar a ansiedade. Nem tem certeza se foi uma boa ideia marcar o encontro. Olha a dúvida surgindo aí...
Ela vai colocar uma música bem alto astral agora e escrever para umas amigas. Enviar memes. Ver Netflix. Comer chocolate.Chega de pensar. Agora não.


Priscila Modanesi

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