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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Prelúdios Poéticos

Faço teatro desde a tenra idade de 12, 13 anos. Surgiu de maneira despretensiosa, porque eu era muito tímida e adorava escrever, então na disciplina de Educação Artística tivemos um trabalho que consistia em criar e encenar uma peça de teatro e todos na sala apontaram para mim porque eu era a “menina que escrevia”. Sem saber exatamente o que era o teatro, mas ávida por agradar debrucei-me e escrevi um pequeno texto. A partir daí nunca mais pude me desvencilhar dessa busca pela arte do teatro. E, sem muitos recursos e nem mesmo Internet nessa época, as minhas ferramentas foram os livros e o auxílio dos professores.

No sexto ano, a professora de Língua Portuguesa me emprestou “Hamlet”, do dramaturgo inglês William Shakespeare, com a seguinte frase: “Fique com o livro o tempo que precisar. Você vai ler e talvez não entenda muito agora, mas leia que essa obra será muito importante para você no futuro”. Passei meses às voltas em tentar decorar nomes como “Rosencrantz” ou “Guildestern” e atônita com tudo que lia. Anos depois, estaria na faculdade encenando o próprio Hamlet num exercício de cena.

Assim, de maneira mais intuitiva que técnica, um bando de jovens que, igualmente a mim, gostavam de teatro, passávamos horas ensaiando a mesma cena e eu, claro, nas funções de diretora e dramaturga. Nessa época, já queria algo que, na minha santa ignorância, chamava de “expressão corporal”. Queria desenhar uma cena em que o corpo falasse mais que as palavras, mas não possuía nenhuma ferramenta teórica para explicar isso aos amigos atores. O corpo, naquela época, era objeto de resistência e curiosidade, restrições e conflitos. E, sem meios de concretizar minhas nebulosas inspirações, o máximo que conseguia era colocar uma “dancinha” para abrir as peças que funcionava como um resumo coreografado do que ia acontecer. Essa era a parte que eu mais gostava e a que meus amigos atores mais queriam que fossem tiradas da encenação.

Um certo dia, o vi dançar em cima de uma mesa, com um vestido branco. Chorei. Ele representava ali tudo que eu nunca soube nomear, aquilo que intuitivamente pretendia vir a ser e a fazer.

Ele, Marsial Asevedo, mineiro, ator, discípulo de Renato Cohen, seguidor das fadas e xamã estava naquela mesa, naquela cidade do interior, com a sua dança pessoal, as suas partituras, a sua expressão. Foi ele o meu mestre, quem me apresentou Artaud, Laban, Peter Brook, Maria Callas, Neil Gaiman, Renato Cohen e a Performance Art, Kazuo Ohno e o Butô e Pina Bausch com seu Tanztheater Wuppertal.

Quando entrei com contato com os vídeos do Tanztheater Wuppertal os meus olhos devorarem aquilo tudo e eu repetindo: “é isso!”. É isso! Para nos expressarmos algo tem de nos mover, interna e externamente e, ao ver o trabalho de Pina Bausch, meu mundo inteiro se moveu. E, desde aquele momento, sabia que jamais poderia ignorar a existência desse fato. A partir daí, meu fazer teatral se resume nessa constante busca do corpo e suas possibilidades poéticas e estéticas na cena.

 



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