Prelúdios Poéticos
Faço teatro desde a tenra
idade de 12, 13 anos. Surgiu de maneira despretensiosa, porque eu era muito
tímida e adorava escrever, então na disciplina de Educação Artística tivemos um
trabalho que consistia em criar e encenar uma peça de teatro e todos na sala apontaram
para mim porque eu era a “menina que escrevia”. Sem saber exatamente o que era
o teatro, mas ávida por agradar debrucei-me e escrevi um pequeno texto. A
partir daí nunca mais pude me desvencilhar dessa busca pela arte do teatro. E,
sem muitos recursos e nem mesmo Internet nessa época, as minhas ferramentas
foram os livros e o auxílio dos professores.
No sexto ano, a
professora de Língua Portuguesa me emprestou “Hamlet”, do dramaturgo inglês
William Shakespeare, com a seguinte frase: “Fique com o livro o tempo que
precisar. Você vai ler e talvez não entenda muito agora, mas leia que essa obra
será muito importante para você no futuro”. Passei meses às voltas em tentar
decorar nomes como “Rosencrantz” ou “Guildestern” e atônita com tudo que lia.
Anos depois, estaria na faculdade encenando o próprio Hamlet num exercício de
cena.
Assim, de maneira mais
intuitiva que técnica, um bando de jovens que, igualmente a mim, gostavam de
teatro, passávamos horas ensaiando a mesma cena e eu, claro, nas funções de
diretora e dramaturga. Nessa época, já queria algo que, na minha santa
ignorância, chamava de “expressão corporal”. Queria desenhar uma cena em que o
corpo falasse mais que as palavras, mas não possuía nenhuma ferramenta teórica
para explicar isso aos amigos atores. O corpo, naquela época, era objeto de
resistência e curiosidade, restrições e conflitos. E, sem meios de concretizar
minhas nebulosas inspirações, o máximo que conseguia era colocar uma “dancinha”
para abrir as peças que funcionava como um resumo coreografado do que ia
acontecer. Essa era a parte que eu mais gostava e a que meus amigos atores mais
queriam que fossem tiradas da encenação.
Um certo dia, o vi dançar
em cima de uma mesa, com um vestido branco. Chorei. Ele representava ali tudo
que eu nunca soube nomear, aquilo que intuitivamente pretendia vir a ser e a
fazer.
Ele, Marsial Asevedo,
mineiro, ator, discípulo de Renato Cohen, seguidor das fadas e xamã estava
naquela mesa, naquela cidade do interior, com a sua dança pessoal, as suas partituras,
a sua expressão. Foi ele o meu mestre, quem me apresentou Artaud, Laban, Peter
Brook, Maria Callas, Neil Gaiman, Renato Cohen e a Performance Art, Kazuo Ohno
e o Butô e Pina Bausch com seu Tanztheater Wuppertal.
Quando entrei com contato
com os vídeos do Tanztheater Wuppertal os meus olhos devorarem aquilo tudo e eu
repetindo: “é isso!”. É isso! Para nos expressarmos algo tem de nos mover,
interna e externamente e, ao ver o trabalho de Pina Bausch, meu mundo inteiro
se moveu. E, desde aquele momento, sabia que jamais poderia ignorar a
existência desse fato. A partir daí, meu fazer teatral se resume nessa
constante busca do corpo e suas possibilidades poéticas e estéticas na cena.
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